terça-feira, 2 de setembro de 2008

Alguns apontamentos sobre a experiência simbólica a partir das letras, crânios, demônios e sonhos do heavy metal


O heavy metal é um estilo musical rico em imagens calcadas em monstros e monstruosidades, ou teratológicas, como figuras demoníacas, crânios e uma série de elementos ligados à idéia de escuridão. Esse campo imagético é muito caro à psicologia analítica e a idéia de “experiência simbólica” na obra de C.G. Jung. O presente trabalho procura compreender a partilha imagética e as letras do rock pesado através do método de amplificação da psicologia analítica, abrindo espaço para se pensar o heavy metal como busca de “territórios existenciais que possibilitem exercitar uma subjetividade situada além dos espaços normatizados (tais como família, escola e trabalho)”[1]. Como observou C.G. Jung, falando a respeito da utilização da amplificação no processo interpretativo das imagens simbólicas: “O método, com efeito, se baseia em apreciar o símbolo, isto é, a imagem onírica ou a fantasia, não mais semioticamente, como sinal, por assim dizer, de processos instintivos elementares, mas simbolicamente no verdadeiro sentido, entendendo-se ‘símbolo’como termo que melhor traduz um fato complexo e ainda não claramente apreendido pela consciência”[2]. Procurando compreender os símbolos metálicos e as significações veiculadas por essas imagens e letras é possível perceber que os símbolos possibilitam a compreensão da “experiência vivida” no Heavy metal como um espaço onírico que permite aos headbangers[3] a partilha de sentimentos e atitudes diante do mundo contemporâneo.
A amplificação no método de compreensão do simbólico, seja em relação às imagens individuais ou coletivas, explora as analogias e a compreensão histórica. Esse tipo de abordagem exige uma oscilação entre texto e contexto, o que caracteriza uma espécie de espiral interpretativa. “Mas só podemos falar do símbolo se primeiro aceitarmos que ele também reúne uma dimensão linguística, assim podemos pensar numa semântica simbólica, ou seja, um campo teórico que trabalha as dimensões dos sentidos e significações. Sem essa premissa o estudo dos símbolos tende a se fechar em um labirinto metafísico”
[4].
Como expressão e produto nascido dentro da esfera dos chamados “meios de comunicação de massa”, o heavy metal é permeado pela utilização de diversos elementos expressivos: formas verbais, musicais ou imagética; caraterizando a idéia de uma possível “linguagem metálica”, produtoras de mensagens específicas dentro do universo tribal do rock pesado, possibilitando uma diferenciação do fã de heavy metal de outros grupos urbanos como “funkeiros” e “rastafaris”, instituindo um código baseado na música distorcida, pesada e nas imagens utilizadas pelos headbangers. Esses elementos não se inscrevem somente numa relação de identidade e indiferenciação, eles são elementos que vivenciados simbolicamente instauram a idéia de um processo comunicacional característico do heavy metal.
[1] Jeder Janotti Jr.. Heavy Metal: O Universo Tribal e o Espaço dos Sonhos, Campinas, Unicamp, 1994 (mimeo, dissertação de mestrado apresentado junto ao Departamento de Multimeios).
[2] C.G.Jung, A Natureza da Psique, Petrópolis, Vozes,1986, p.7.
[3] Literalmente headbanger significa batedor de cabeça, uma alusão à dança dos fãs de heavy metal caracterizada pelo ato de rodopiar e mover a cabeça continuamente para cima e para baixo de maneira cadenciada e agressiva. O termo é utilizado pelas publicações especializadas e pelo próprio grupo para designar o fã de Rock Pesado.
[4] Jeder Janotti Jr. A Experiência Simbólica, Texto apresentado na V Compós (São Paulo) 1986, (mimeo).


Jeder Janotti Jr.
Faculdade de Comunicação/UFBA

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